Contemporaneidade, orientação profissional, psicanálise: articulação impossível?

  • LUCIANA ALBANESE VALORE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Resumen

As transformações no mundo do trabalho têm colocado desafios para o campo da orientação profissional, exigindo enfoques teórico-metodológicos que contemplem as novas demandas sociolaborais. Diante dos imperativos da sociedade de curto prazo em que vivemos, abordagens tradicionalmente utilizadas - como é o caso da psicanálise no contexto brasileiro – têm sido questionadas. O presente artigo debruça-se sobre esta questão, objetivando identificar no modelo clínico de base psicanalítica,  aqui concebido em suas possíveis aproximações com a análise institucional do discurso, contribuições para a orientação profissional contemporânea. Dentre elas, destacam-se algumas proposições sobre a constituição da subjetividade e suas implicações na problemática vocacional, bem como a análise dos efeitos da atual configuração social no processo de transição para a vida adulta. Do ponto de vista da intervenção, a aposta é que a escuta psicanalítica na orientação profissional, faça-se valer - ainda nos dias de hoje e em contextos outros que não apenas o do consultório - como possibilidade de desconstrução/reconstrução das imagens de si e dos discursos sociais instituídos. Contribuindo, deste modo, para a mudança da posição subjetiva, para a superação da condição de governabilidade pela de autogoverno.

Changes in the working world have challenged the field of vocational guidance, requiring theoretical and methodological approaches that address the new socio-occupational demands. Given the imperatives of short term society we live in, traditionally used perspectives - such as in the case of psychoanalysis in the Brazilian context –have been questioned. This article focuses on this issue in order to identify on vocational guidance psychoanalytical model, here conceived as an approach to institutional discourse analysis, its possible contributions. Among them, we highlight some propositions about the constitution of subjectivity and their implications for vocational problems as well as the analysis of current social configuration effects in the transition for adult life. From the standpoint of the intervention, the bet is that psychoanalytic listening, is valid - even today, and in contexts other than clinical practice - as a possibility to deconstruct/ reconstruct self-images and instituted social discourses. Contributing, thus, to change the subjective position, to overcoming the governability condition toward self - government.

Biografía del autor/a

LUCIANA ALBANESE VALORE, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Professora Associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná. Mestre em Psicologia Social e do Trabalho e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo. Coordena e orienta pesquisas no campo da Psicologia Educacional e da Orientação Profissional e de Carreira, com publicações na área. Atualmente é coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Paraná.

Citas

Baudrillard, J. (2007). A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70.

Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar

Bauman, Z. (2009). A arte da vida. Rio de Janeiro: Zahar

Bendassolli, P. F. (2006). Os ethos do trabalho – sobre a insegurança ontológica atual

com o trabalho. Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da

Universidade de São Paulo.

Birman, J. (2000). Mal-estar na atualidade: A psicanálise e as novas formas de subjetivação (2ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Birman, J. (2006). Tatuando o desamparo. Em: Cardoso, M.R. (org.) Adolescentes (pp.25-43). São Paulo: Escuta.

Birman, J. (2012). O sujeito na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Bohoslavsky, R. (Org.) (1983). Vocacional: Teoria, técnica e ideologia. São Paulo: Cortez.

Bohoslavsky, R. (1991). Orientação vocacional: A estratégia clínica (8ª ed.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1979).

Calligaris, C. (2000). A adolescência. São Paulo: Publifolha.

Coutinho, M.C.; Krawulski, E.; & Soares, D. H. P. (2007). Identidade e trabalho na

contemporaneidade: repensando articulações possíveis. Psicol. Soc., 19, pp. 29-37.

Debord, G. (1997). A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto. (Original

publicado em 1967).

Di Caccia A. (2007) Inventar a psicanálise na instituição. Em: ASSOCIAÇÃO DO CAMPO FREUDIANO (org.). Pertinências da Psicanálise Aplicada: trabalhos da Escola da Causa Freudiana (pp.69-75). Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Dias, M.S.L. (2009). Sentidos do trabalho e sua relação com o projeto de vida de

universitários. Tese de doutorado apresentada ao Programa de pós-graduação em

Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.

Duarte, M.E. (2011). Desaprender para ensinar os princípios (ou um outro modo de enfrentar a orientação). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(2), 5-14.

Foucault, M. (1999). História da sexualidade I: A vontade de saber (13ª ed.). Rio de Janeiro: Graal. (Original publicado em 1988).

Foucault, M. (2000). A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola (Original publicado em 1970)

Foucault, M. (2003). Ditos e escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Foucault, M. (2005). A arqueologia do saber (7a ed.). Rio de Janeiro: Forense

Universitária

Freud, S. (1974). O mal estar na civilização. Em Obras Completas (v. XXI). Rio

de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1930)

Guirado, M. (2006). Psicanálise e análise do discurso: Matrizes institucionais

do sujeito psíquico. Ed. rev e ampl. São Paulo: E.P.U.

Guirado, M. (2010). A Análise institucional do discurso como analítica da

subjetividade. São Paulo: Annablume.

Jenschke, B. (2003). Orientación para la carrera: Desafios para el nuevo siglo bajo uma perspectiva internacional. Orientación y Sociedad, 4, pp.13-24.

Jerusalinsky, A. (2000). Papai não trabalha mais. Em: Jerusalinsky, A. e col. O valor simbólico do trabalho e o sujeito contemporâneo. (pp.35-49). Porto Alegre: Artes & Ofícios.

Lasch, C. (1983). A cultura do narcisismo. Rio de Janeiro: Imago

Lehman, Y.P. (2010) Orientação profissional na pós-modernidade. Em R. S. Levenfus & D. H.P. Soares (Orgs.), Orientação vocacional ocupacional. (pp.19-30). 2ª ed. Porto

Alegre: ArtMed

Lehman, Y.P.; Silva, F.F.; Ribeiro, M.A.; & Uvaldo, M.C.C. (2011). Segunda Demanda-Chave para a Orientação Profissional: como ajudar o indivíduo a entender os determinantes de sua escolha e poder escolher? Enfoque psicodinâmico. Em M.A. Ribeiro & L.L. Melo-Silva (Orgs.), Compêndio de Orientação Profissional e de Carreira, Vol 1(pp.111-134). São Paulo: Vetor

Levenfus, R.S. (1997). Psicodinâmica da escolha profissional. Porto Alegre: Artes

Médicas

Levenfus, R.S. (2010). Orientação Vocacional Ocupacional: abordagem clínica

Psicológica. Em R. S. Levenfus & D. H.P. Soares (Orgs.), Orientação vocacional ocupacional. (pp.117-132). 2ª ed. Porto Alegre: ArtMed

Lipovetsky, G. (2007). A sociedade da decepção. São Paulo: Manole.

Matet, J.; & Miller,J.A. (2007). Apresentação. Em: ASSOCIAÇÃO DO CAMPO FREUDIANO (org.). Pertinências da Psicanálise Aplicada: trabalhos da Escola da Causa Freudiana (pp.01-05). Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Mezan, R. (2002). Interfaces da psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras.

Muller, M. (2003). Subjetividad y orientación vocacional profesional. Orientación y Sociedad, 4, pp. 35-44.

Osório, L.C. (1996). O futuro da psicanálise. Porto Alegre: Mercado Aberto.

Paladino, E. (2005). O adolescente e o conflito de gerações na sociedade contemporânea. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Palmeira, C.G.; Mayerhoffer, E.L.; Mariz, N.N. & Cardoso, M.R. (2006). Desamparo e melancolia na adolescência contemporânea. Em: Cardoso, M.R. (org.) Adolescentes (pp.157-168). São Paulo: Escuta.

Rascovan, S. (2005). Orientación vocacional: una perspectiva crítica. Buenos Aires: Paidós.

Ribeiro, M.A. (2011). Enfoques teóricos em Orientação Profissional. Em: Ribeiro, M.A. & Melo-Silva, L.L. (orgs.) Compêndio de Orientação Profissional e de Carreira- volume 1 (pp.67-85). São Paulo: Vetor.

Ribeiro, M.A.; Lehman, Y.P. (2011). Algumas contribuições brasileiras para a Orientação Profissional. Em: Ribeiro, M.A. & Melo-Silva, L.L. (orgs.) Compêndio de Orientação Profissional e de Carreira- volume 2 (pp.53-97). São Paulo: Vetor.

Ribeiro, M.A. (2014). Carreiras: novo olhar socioconstrutivista para um mundo flexibilizado. Curitiba: Juruá

Savickas, M. L.; Nota, L.; Rossier, J.;Dauwalder, J.; Duarte, M. E.; Guichard, J.; Soresi, S.; Esbroeck, R.; & van Vianen, A. E. M. (2010). Construção da vida: Um novo paradigma para compreender a carreira no século XXI. Revista Portuguesa de Psicologia. V. 42, pp. 13-44.

Sennett, R. (2004). A corrosão do caráter. (8ª ed.) Rio de Janeiro: Record.

Torres, M.L.C. (1998). O processo clínico de orientação profissional. Rev. ABOP 2 (2), pp. 29-37.

Torres, M. L. C. (2001). Orientação profissional clínica: Uma interlocução com conceitos psicanalíticos. Belo Horizonte: Autêntica.

Torres, M.L.C. (2002). Orientação Profissional Clínica: Uma contribuição metodológica. Em R. S. Levenfus e Dulce H.P. Soares (Orgs.), Orientação Vocacional Ocupacional (pp. 81-90). 1ª ed. Porto Alegre: ArtMed.

Valore, L.A. (2012). O desamparo adolescente na adolescente contemporaneidade: Contribuições da orientação profissional. Psicologia Argumento, 30(68) pp.9-18

Zorzan, F.S.; & Chagas, A. T. S. (2014). Mídia e novas formas de subjetivação: discurso publicitário, consumo e novas configurações subjetivas na cultura pós-moderna. Barbarói, 40 (20), pp.200-221.

Publicado
2016-06-12
Cómo citar
ALBANESE VALORE, L. (2016). Contemporaneidade, orientação profissional, psicanálise: articulação impossível?. Perspectivas En Psicología, 13(1), 37-45. Recuperado a partir de http://200.0.183.216/revista/index.php/pep/article/view/225
Sección
Artículos